Fóssil de dinossauro mais antigo da África é encontrado no ZimbábueDinossauro encouraçado argentino pode ser de linhagem desconhecida
A clava anterior dos anquilossauros era composta de duas saliências ósseas ovais, que, por muito tempo, se acreditou ser útil principalmente na defesa das antigas criaturas contra outros dinos. Vemos, no entanto, muitos anquilossauros com clavas muito pequenas ou até mesmo inexistentes, algo intrigante na evolução das espécies — como não podemos simplesmente assistir ao comportamento de milhões de anos atrás, nos resta especular e buscar outras evidências.
Um fantasma bem preservado
A evidência principal veio na forma de um espécime de Zuul crurivastator, que teve até mesmo a pele super bem preservada ao longo das eras. Sua denominação já mostra como a ciência pensava nesses animais: “Zuul” é uma referência à criatura do filme Os Caça-Fantasmas, mas “cruri” significa “canela” ou “tarso”, enquanto “vastator” quer dizer “destruidor”, indicando que o dinossauro causaria grandes estragos nas canelas dos predadores, como o T. rex. Desafiando a ideia, os cientistas buscaram descobrir se a clava da cauda seria de fato uma arma eficiente. Há, claro, espécies com variações da característica, sendo que em algumas ela surgia apenas nos adultos, e em outras, nem sequer surgia. As ocorrências menores do aparato biológico, com 200 milímetros, não tinham tamanho suficiente para serem efetivas contra outros dinossauros. Uma das formas de descobrir se as caudas armadas eram utilizadas em combate intraespecífico (entre membros da própria espécie) seria analisando um dinossauro preservado, o que era impossível há alguns anos. Entra em cena, então, o Zuul fossilizado. Tanto o lombo quanto as laterais do dino estão cobertos com diversos espinhos e estruturas ósseas chamadas osteodermos, incluindo vários que apresentam danos em ambos os lados. Alguns deles até mesmo mostram terem sido curados. Outros anquilossauros preservados incluem um nodossauro de nome científico Borealopelta, que não tinham clavas nas caudas e não mostram machucados semelhantes nas laterais. No Zuul, o dano não inclui marcas de mordida, forte indício que não foi causado por atividade predatória. Isso é reforçado pela ausência de ferimentos perfurantes ou arranhões causados por dentes em todo o corpo. Também tentou-se observar se a evolução das caudas teria alguma influência ambiental dos predadores, o que não pôde ser verificado. Embora não houvesse uma quantificação que mostrasse uma ligação entre os dois eventos, a ocorrência não é de todo impossível: a falta de evidências não é prova definitiva neste caso. Por outro lado, nodossauros conviveram com terópodes carnívoros por milhões de anos, assim como outros anquilossauros, que levaram outros milhões de anos para desenvolver as clavas anteriores.
Um tapinha dói, sim
As armas em si eram terríveis. O Zuul tinha 6 metros de comprimento e pesava 2,5 toneladas, com 3 metros de uma cauda cheia de espinhos e um grande porrete de 36,8 cm de osso, o que poderia causar um grande estrago mesmo em um anquilossauro blindado como ele. Para vias de comparação, pense nas girafas, com seus pescoços de 225 kg ostentando ossos (ossicones, mais especificamente) no topo da cabeça — elas balançam os adereços uma contra a outra em brigas, podendo quebrar pernas e perfurar seriamente uma a outra. O comportamento é raro em espécies atuais, mas é muito possível que anquilossauros tenham mirado suas clavas anteriores em outros membros da espécie, tanto em brigas territoriais quanto por parceiros — atualmente, não há maneira de distinguir fósseis de machos de fósseis de fêmeas, então é difícil determinar a causa dos combates com tal precisão. O próximo passo é encontrar padrões de ferimentos que possam condizer com um comportamento generalizado de combate intraespecífico, caso se queira confirmar essa ocorrência. Os anquilossauros poderiam, é claro, ter utilizado a ferramenta biológica para atacar predadores, mas a proposta dos cientistas é de que essa não era a função principal e nem original do adereço. Uma confirmação disso poderá mudar nossa percepção desses dinos encouraçados para sempre. Fonte: Biology Letters