A verificação cruzada é a política da Meta na qual o grupo da “alta sociedade” de influência é separado do usuário comum na moderação de conteúdo automática. Apesar de útil para evitar ataques de trolls, ela se mostrou ineficaz em remover conteúdo ofensivo em tempo hábil. Estudo do comitê foi iniciado após denúncias da ex-engenheira da Meta Frances Haugen.
Verificação cruzada é útil, mas precisa de melhorias
A proposta da verificação cruzada é útil. Ajuda, por exemplo, que jornalistas em zonas de conflito e ativistas em países governados por ditadores. Sem a verificação cruzada, um jornalista iraniano publicando sobre os protestos no país poderia ser facilmente suspenso. Bastaria que o governo realizasse uma “chuva de denúncias” na conta. Entretanto, como aponta o relatório do Comitê, a verificação cruzada é lenta demais para remover conteúdos realmente inapropriados. Algo até natural, pois os fatores humanos na moderação não viverão 24 horas acordado para avaliar se a foto de uma celebridade é inapropriada. Para exemplificar a demora na moderação, o Comitê utilizou como exemplo a denúncia de estupro contra o Neymar. Em 2019, horas depois que o caso veio à tona, o jogador publicou um vídeo mostrando toda a conversa no WhatsApp com a denunciante, cujo nome aparece no vídeo. Em alguns momentos, fotos da mulher nua também aparecem. O vídeo ficou no ar por mais de um dia — e obviamente foi baixado a torto e a direito, gerando 56 milhões de visualizações no Facebook e Instagram antes de ser removido. A Meta culpa a fila de conteúdos a avaliar no momento. Mas se há um tratamento especial na moderação das grandes contas, porque elas também não são priorizadas na avaliação? Afinal, uma conta com 500 seguidores postar nudes será removida rapidamente pelo sistema automatizado, enquanto o alcance de um conteúdo ilegal postado por Neymar é bem maior. De acordo com as políticas da Meta, a punição para a violação de Neymar seria a exclusão da sua conta. Em dezembro de 2021, a Meta assinou um contrato de exclusividade com Neymar pela suas streams de jogos, que são exibidos no Facebook Gaming. O favorecimento reforça um ponto do comitê, o foco não é o usuário.
Comitê afirma que cross check protege empresas
O relatório do Comitê reforça o ponto de Frances Haugen: a Meta priorizou o negócio ao invés de segurança. E claro, a Meta é uma empresa com duas redes sociais, cuja receita vem de anúncios — na sua maior parte. O problema é que, nas palavras do Comitê da própria empresa, a verificação cruzada parece ser estruturada para proteger os interesses comerciais. Ou seja, vale a pena aplicar dois pesos e duas medidas quando perder receita está em jogo. O que joga luz em outro ponto. Por anos, a Meta (e o Twitter) ignorou as violações de Donald Trump, só agindo quando houve a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro. Cinco pessoas morreram na tentativa de golpe, a mais violenta das tentativas incentivadas por Trump. O ataque à democracia americana, a mais sólida das Américas e segunda mais longa no mundo, levou as redes sociais a se preocuparem com a possibilidade de anunciantes e usuários pularem fora, pois ninguém quer investir ou ficar em um ambiente tóxico. Então fazia sentido banir permanentemente o Donald Trump — algo que o Comitê é contra. Já o caso do Neymar não foi prejudicial para a Meta. Prejudicial seria jogar fora a chance dele ser streamer exclusivo da Facebook Gaming. E, repetindo, a Meta é uma empresa e é obrigado a pensar comercialmente. O problema é que a moderação de conteúdo das grandes contas deve ser mais eficiente e assertiva, ainda mais que haverá uma equipe humana para avaliar o caso. Mesmo que o inquérito policial contra Neymar tenha sido arquivado por falta de provas, ele ainda expôs imagens íntimas e o nome da denunciante. As políticas da Meta são claríssimas sobre isso, mas foram ignoradas. Alan Rusbridger, membro do Comitê de Supervisão, disse o seguinte ao The Verge: A Meta está no caminho certo com a verificação cruzada, mas o método precisa ser restruturado e ganhar mais investimento. As redes sociais ainda são o carro chefe da empresa. Contudo, essa restruturação deve demorar, ainda mais que 11.000 funcionários foram demitidos. Com informações: Engadget e The Verge